Disciplina - Lingua Portuguesa

Português

13/02/2012

90 anos da Semana de Arte Moderna

Fabrício Bernardes
Há exatos 90 anos, São Paulo passava por um acontecimento que mudaria o rumo de toda a arte brasileira e, mais tarde, faria com que as expressões artísticas brasileiras fossem inclusive, exportadas a outros países.
Num país marcado pelo conservadorismo, só um evento da magnitude da Semana de Arte Moderna para livrar-nos do atrasado Parnasianismo na Literatura e do Realismo na pintura. Os modernistas não poderiam ter escolhido data melhor para este acontecimento: o centenário da independência brasileira (1922). Mesmo independentes, ainda estávamos atrelados à arte europeia – à do século passado, no entanto. Estava na hora da nossa arte caminhar com seus próprios passos.
Não se sabe ao certo de quem partiu a ideia de realizar uma amostra de Arte Moderna em São Paulo. Entretanto, há registros de que Oswald de Andrade prometia para o ano do centenário da independência uma ação dos artistas novos que “fizesse valer a data”.
Em 1921, no entanto, o grupo que realizaria a semana estava completamente organizado e amadurecido para o evento. No mesmo ano, chegou da Europa Graça Aranha, escritor consagrado e membro da Academia Brasileira de Letras. Entusiasmado, ele também apoiou os paulistas. Era o impulso que faltava. A Semana de Arte Moderna ocorreu entre 13 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. Durante toda a mostra, o saguão esteve aberto ao público. Nele, havia obras expostas de artistas como Anita Malfatti, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita, Di Cavalcanti, Vítor Brecheret e outros.
Nas noites dos dias 13, 15 e 17 realizaram-se saraus com leitura de poesias e apresentações de conferências, leituras de poemas, dança e música. A segunda noite foi a mais importante e mais tumultuada de todas. Quando se iniciou a leitura de poemas e fragmentos de prosa, a plateia vaiou, relinchou, latiu, gritou, bateu o pé.
No intervalo entre uma parte e outra do programa, Mário de Andrade fez, em meio a caçoadas e ofensas, uma pequena palestra sobre as artes plásticas ali expostas. O poeta, marcado pela sua timidez, vinte anos depois, referiu-se assim ao episódio: “Como pude fazer uma conferência sobre artes plásticas, na escadaria do Teatro, cercado de anônimos que me caçoavam e ofendiam a valer?”
Entendendo a Semana
Com a descrição realizada acima, parece que a Semana de Arte Moderna não foi algo de tanta magnitude. Contudo, é necessário entender o contexto da sociedade paulistana e brasileira da época.
O País estava começando a se urbanizar, nossa população estava cada vez mais se concentrando em grandes centros. A modernidade começava a chegar ao Brasil. Porém, embora a modernidade se aproximava, nossa arte ainda estava no século 19. Da mesma forma, nossa sociedade ainda tinha um pensamento provinciano e fortemente ligado a antigos tabus. Estava na hora de romper isso! A intenção inicial do evento era “assustar essa burguesia que cochila na glória de seus lucros”. Di Cavalcanti, por sua vez, declarou que o episódio serviu para “meter os estribos na barriga dessa burguesiazinha paulistana”. E eles conseguiram.
Na época, a Semana de Arte Moderna foi considerada tão escandalosa e imoral que, nas casas de famílias burguesas, era proibido discutir sobre ela diante de crianças e moças. Eles romperam com tudo o que era obsoleto e impuseram uma nova forma de fazer arte: a moderna.
A vitória foi inegável: com a renovação instaurada pela Semana, enterrou-se a poesia parnasiana e com ela toda a mentalidade que se afirmava. Começou uma nova era: a voz dos modernistas tornou-se tão forte que sua ressonância propagou-se por todo o país.
Os reflexos da Semana fizeram-se sentir em todo o decorrer dos anos 1920, atravessaram a década de 1930 e, de alguma forma, têm relação com a arte atual. Os artistas da primeira fase do Modernismo realizaram a ruptura a partir da irreverência e do absurdo. Prepararam o “terreno” para as outras fases que viriam. Estas etapas, aliás, colocaram o Brasil como exportador de literatura, música e artes plásticas.
Porém, só um rompimento da magnitude da Semana de Arte Moderna para abrir espaço ao moderno naquela época. Se não fosse por estes artistas, talvez estaríamos no Parnasianismo até hoje...
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